Março é o mês da saúde oral e diversas instituições estão a fazer campanhas em prol de conscientizar os portugueses. Isso porquê, como já comentamos em artigos anteriores, em Portugal, actualmente está a ocorrer a curiosa situação de que sobram médicos dentistas mas também há um número relevante de pessoas que não estão com a saúde bucal em dia. Leia o artigo de hoje que você vai entender o que está acontecendo e muito mais. Confira!
A saúde oral em Portugal
Em uma realidade na qual, a nível mundial, 3,5 biliões de pessoas têm doenças orais e cerca de 530 milhões de crianças sofrem com cáries dentárias (de acordo com dados estimados pela Organização Mundial da Saúde), poderiamos dizer nem todos usufruem de maneira igual dos vários profissionais dedicados à saúde oral em Portugal.
Isso porque 30% dos cidadãos do país não têm acesso a um médico dentista: isso significa que por volta de 2,3 milhões de portugueses que não têm cuidados básicos de saúde bucal.
A Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), Entidade pública que atribui o título profissional de médico dentista e regula o exercício da profissão em Portugal, afirma que sugerir que os médicos dentistas cobrem valores inferiores aos custos reais dos procedimentos que realizam não é a maneira correcta de tentar solucionar o problema.
Inclusive, o orgão declarou considerar absurdamente abaixo da média os preços sugeridos pela nova tabela da ADSE, afirmando que esses poderiam ¨colocar em causa qualidade dos atos médico-dentários¨.
Considerando que o tratamento deve ser, além de acessível, de qualidade, o órgão promoveu o Barómetro de Saúde Oral em 2021, pesquisa informativa que trouxe dados alarmantes sobre a saúde bucal dos cidadãos portugueses. De acordo com os dados colectados, 70% da população do país tem falta de dentes naturais, enquanto 41% dos portugueses confessaram não haver ido ao médico dentista no último ano.
Apesar dos altos índices populacionais sem acesso a saúde oral, o mercado de trabalho português está saturado de médicos dentistas: Portugal tem uma média de um médico dentista para cada 884 habitantes, o que é mais que o dobro recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), já que o órgão aconselha um médico dentista por cada 2 mil habitantes.
A esse respeito, a OMD diz que ¨Para além do excesso de profissionais, acresce que grande parte da população portuguesa tem dificuldade em aceder a cuidados de saúde oral por falta de capacidade económica. O programa cheque-dentista ou o projecto-piloto de médicos dentistas nos centros de saúde, apenas respondem a uma parte ínfima da população e deixam de fora a grande maioria dos portugueses”.
A recomendação da organização é que os profissionais recem formados emigrem, sendo a França, seguida do Reino Unido, os destinos mais populares para portugueses em busca de trabalho na área.
Quem deve agir para uma melhor saúde bucal?
Uma vez comprovada a insatisfação geral com a situação da saúde dentária de grande da população portuguesa, cada vez mais movimentos não-governamentais estão ganhando força dentro do país para tentar mudar esse cenário.
Por outro lado, tal situação virou uma preocupação nacional ano de eleições, a tal ponto que muitos políticos estão incluindo em seus discursos propostas sobre medidas para tentar reverter o quadro da precária desigualdade ao acesso da saúde bucal.
Enquanto há quem acredite que a solução passa por reivindicar melhoras e mudanças drásticas no Serviço Nacional de Saúde de Portugal, como é o caso de de Miguel Pavão, Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, o qual, em tom crítico, sugere que: “ A integração da Medicina Dentária no Serviço Nacional de Saúde, para além de insuficiente, tem sido garantida, na maior parte dos casos, com recurso a profissionais contratados por empresas privadas”, há organizações, como a Mundo A Sorrir, que apostam por medidas a curto e a largo prazo para tentar fazer, desde já, a diferença na vida de quem sofre com esse problema.
A Março a Sorrir
A Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) Mundo a Sorrir vai desenvolver Março a Sorrir, fundada em Porto, durante Março de 2022 vai promover acções exclusivas em Portugal relacionadas a sua proposta de potenciar a universal inclusão social das populações em em situação de vulnerabilidade socioeconómica, de maneira a tentar garantir equidade social quanto a Saúde e a Saúde Oral.
Ao longo do mês em que celebra a saúde oral, tal organização organizará diversas actividades que visam conscientizar a população sobre a importância da saúde oral e estimular a prática de melhores hábitos nesse âmbito que, como vimos, está tão desfasado no país para um volume surpreendente de pessoas. Para tanto, serão feitas:
- Sessões de sensibilização para a promoção da saúde oral destinadas a diferentes públicos-alvo.
- Entrega de escovas e pastas de dentes, doadas pela marca Oral-B a crianças mais vulneráveis a nível socioeconómico.
- Conversas informais online sobre a temática.
- Actividades lúdicas de promoção da saúde oral.
A história da medicina dentária em Portugal
A medicina dentária, até meados do século XIX, era praticada, como muitos já sabemos, por barbeiros, arrancadores de dente profissionais ou cirurgiões. Alguns médicos Oftamologistas e Urologistas se aventuravam a extrair dentes e a fazer operações da boca, conteúdo muitos profissionais da medicina tinham medo de realizar qualquer actividade relacionada ao aparato oral.
Eles acreditavam que os procedimentos bucais envolviam força física e que realizá-los com certa constância poderia influenciar negativamente a capacidade dos médicos de realizar intervenções delicadas!
Essa situação aconteceu até 1911, que foi quando a Estomatologia foi reconhecida como uma especialidade. Segundo a Ordem dos Médicos Dentistas, a odontologia, ¨de acordo com a hierarquia científica e social das classes profissionais ligadas à saúde em Portugal, até ao século XVIII detinha no topo o médico e por ordem decrescente de reconhecimento público, o algebrista, o sangrador, as parteiras, o arrancador de dentes e os cirurgiões herniários¨.
Século XV
Era senso comum que se precisava saber mais sobre a medicina dentária para exercê-la com mais propriedade. A procura de uma base científica, foi criado o Primeiro Tratado de Anatomia Dentária (Valescus de Taranta), que abordava a Dentisteria Operatória.
Nele eram ditas as principais operações que deveriam ser feitas nos dentes careados, procedimentos esses que, envolvendo uma broca manual rudimentar, deram origem aos primeiros materiais de restauração dentária.
Usar os pés para tratar da boca: a evolução seguinte da dentisteria foi um equipamento com propulsão através de uma alavanca movida a pedal.
Nessa época em diante, dentistas estrangeiros contribuíram imensamente com a evolução da medicina dentária em Portugal. Entre os nomes mais notáveis cabe destacar João António Dufour, responsável por introduzir no território português a técnica da ferulização em casos de doença periodontal com perda de suporte dentário e mobilidade. Antes dele ninguém pensava que o fio de ouro poderia também servir de suporte aos dentes naturais perdidos, aos quais se removia a porção apical, mantendo-os na arcada, fixos aos dentes contíguos.
Século XV até os dias actuais
Foi só no século XVIII que foi regulamentada a profissão ¨dentista¨ como tal, e criada a Real Junta do Proto-Medicato. A história, dai para frente, já conhecemos e seguimos construindo até hoje.
Os avanços feitos desde a antiguidade são inegáveis, mas, uma vez que, a capacitação dos profissionais da saúde oral está mais que em dia em Portugal, cabe-nos focar nossos esforços na concientização dessa e das novas gerações sobre a importância da higiene bucal. Trazer esse tema a tona é, além de uma responsabilidade dos profissionais da saúde oral, um trabalho constante, em prol de construir um país com uma saúde bucal cada vez melhor.
Em caso de qualquer dúvida ou sugestão, não hesite em escrever-nos em bomdia@dentaltix.com
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