No mundo da medicina dentária moderna, escolher o material de restauração certo é fundamental para garantir resultados funcionais e estéticos de alta qualidade. Entre os materiais mais usados nos consultórios dentários está o compósito dentário, uma resina composta muito versátil que mudou a maneira como se fazem as restaurações em dentes anteriores e posteriores. No entanto, com tantas opções disponíveis no mercado, escolher o compósito adequado pode ser um desafio.
Os compósitos dentários variam não só na sua aplicação clínica, mas também na sua composição e no tamanho das partículas de enchimento, o que afeta as suas propriedades mecânicas e estéticas. Neste artigo, vamos explorar em detalhe as características, utilizações e benefícios dos diferentes tipos de compósitos dentários, oferecendo um guia completo para que possa tomar decisões informadas e melhorar a qualidade dos seus tratamentos.
O que são os compósitos dentários e como são classificados?
Os compósitos dentários são materiais resinosos que consistem numa matriz orgânica e uma fase de carga inorgânica. São utilizados principalmente para restaurar estruturas dentárias danificadas por cáries, fraturas ou desgaste. A sua capacidade de imitar a estrutura natural do dente e a resistência mecânica fazem deles uma ótima escolha para tratamentos conservadores e altamente estéticos.
Os compósitos podem ser classificados de várias maneiras, dependendo da sua composição, viscosidade e aplicação clínica.
Compósitos Anteriores
Os materiais restauradores precisam ter um elevado padrão estético, uma vez que estão na parte mais visível do sorriso e qualquer alteração na sua aparência pode afetar a harmonia facial do paciente. Estes compósitos são utilizados em restaurações de cavidades de Classe III, IV e V, e em modificações estéticas de forma e cor. Para este tipo de tratamento, é recomendado escolher compósitos micropreenchidos ou nanohíbridos, pois oferecem uma estética superior devido à sua excelente capacidade de polimento, variedade cromática e comportamento ótico semelhante ao dos dentes naturais.
Para conseguir uma restauração que se integre esteticamente bem, estes materiais precisam ter algumas características específicas:
- Elevada translucidez e variedade de tonalidades: isso permite replicar com precisão as nuances do dente, obtendo um acabamento natural e quase imperceptível.
- Textura superficial semelhante ao esmalte: os compósitos devem refletir a luz de forma uniforme, para evitar contrastes visíveis entre o material restaurador e a estrutura do dente.
- Opalescência: este fenómeno ótico, que se encontra no esmalte, cria reflexos azulados à luz direta e reflexos alaranjados nas zonas internas, o que acrescenta realismo à restauração.
- Fluorescência: os compósitos devem imitar a forma como a dentina natural reage à luz ultravioleta, para evitar um aspeto artificial em diferentes condições de iluminação.
- Capacidade de polimento e retenção do brilho: estas características são essenciais para manter a estética ao longo do tempo e prevenir o acúmulo de placa bacteriana.
Os compósitos mais avançados utilizam tecnologias de camadas de cor, que ajudam a recriar a anatomia e a profundidade ótica do dente, facilitando a sua integração com o tecido dentário adjacente.
Compósitos Posteriores
As restaurações na zona posterior exigem materiais que combinem resistência mecânica e estética. Ao contrário dos compósitos anteriores, que se focam principalmente na aparência natural, os materiais para dentes posteriores precisam suportar forças de mastigação elevadas sem se fracturarem ou desgastarem rapidamente. Por isso, recomenda-se o uso de compósitos híbridos ou bulk-fill, que oferecem excelente durabilidade face à compressão e ao desgaste, além de facilitarem um manuseio clínico eficaz em cavidades profundas ou amplas.
Para garantir uma restauração duradoura e funcional, estes materiais devem ter algumas características chave:
- Alta resistência à compressão e ao desgaste: os materiais usados em restaurações posteriores devem ser capazes de suportar a pressão exercida durante a mastigação sem sofrer deformações ou perda de material.
- Redução da contração de polimerização: um fator importante para a durabilidade das restaurações posteriores é a mínima contracção durante a polimerização, o que ajuda a evitar a formação de microfiltrações e possíveis cáries secundárias.
- Opacidade adequada: embora a estética não seja a prioridade nestas restaurações, os compósitos posteriores devem ter uma tonalidade e translucidez equilibradas para se integrarem naturalmente com os dentes circundantes.
- Manuseio simples e adaptabilidade: um bom compósito posterior deve permitir uma fácil manipulação, adaptando-se perfeitamente à cavidade sem formação de bolhas ou espaços vazios que possam comprometer a sua durabilidade.
Compósitos Universais
Os compósitos universais são materiais de restauração concebidos para serem utilizados tanto em dentes anteriores como posteriores. Eles combinam boa estética, resistência e facilidade de manuseio, tudo num só produto. Essa versatilidade faz deles uma ótima opção para vários tipos de restaurações, facilitando a escolha dos materiais na prática clínica. Geralmente, têm menos tonalidades disponíveis e, em alguns casos, utilizam a tecnologia “one shade”, que ajuda a imitar a cor natural do dente.
Compósitos Bulk-fill
Os compósitos Bulk-fill são um tipo especial de resina composta, feitos para permitir restaurações rápidas e eficazes, principalmente em cavidades mais profundas. A sua principal característica é que podem ser aplicados em camadas grossas de até 4-5 mm, o que diminui a quantidade de camadas necessárias em comparação com os compósitos tradicionais, que exigem aplicações em camadas mais finas.
Estes materiais oferecem muita versatilidade na dentisteria de restauração, especialmente em dentes posteriores, onde as cavidades costumam ser mais profundas e o tempo de tratamento precisa ser otimizado. Com a possibilidade de uma colocação mais rápida e menos contração de polimerização, os compósitos Bulk-fill são uma excelente escolha para restaurações em dentes que suportam uma grande quantidade de cargas mastigatórias.
Compósitos Fluídos (Flow)
Os compósitos dentários fluídos são uma variação das resinas convencionais, e são caracterizados pela sua baixa viscosidade. Esta propriedade faz com que sejam mais fluidos e fáceis de usar, o que os torna ideais para determinadas aplicações na medicina dentária. Vamos às características e principais aplicações:
- Baixa viscosidade: a principal característica dos compósitos fluídos é a sua fluidez, que permite que se adaptem a cavidades com formas irregulares e anatomias complexas, melhorando o selamento e a precisão, especialmente em áreas de difícil acesso.
- Facilidade de manuseamento: graças à sua consistência, esses materiais são simples de aplicar com ferramentas como seringas, cânulas ou pequenas espátulas, o que facilita a colocação em cavidades pequenas a moderadas.
- Elevada adaptabilidade: a baixa viscosidade permite que se ajustem muito bem aos contornos da cavidade dentária, melhorando a adesão e reduzindo o risco de microinfiltração (entrada de bactérias) entre o material e o dente, o que garante uma restauração mais duradoura.
Aplicações:
Os compósitos fluidos são especialmente úteis em situações em que a precisão, a adaptabilidade e a facilidade de manuseamento são necessárias, em vez da resistência mecânica. As suas principais aplicações incluem:
- Selagem de fossas e fissuras: são normalmente utilizados para selar fossas e fissuras em molares, impedindo a entrada de bactérias causadoras de cáries. A sua fluidez permite-lhes penetrar eficazmente nestes espaços, assegurando uma selagem hermética.
- Base de cavidades profundas: são utilizadas como base em cavidades profundas antes da colocação de uma restauração mais espessa. A sua fluidez preenche bem os espaços, proporcionando uma proteção adicional à polpa dentária e ajudando a reduzir a sensibilidade pós-operatória.
- Restaurações em áreas de baixa tensão mecânica: são adequados para restaurações em áreas com menor carga mastigatória, como os dentes anteriores (incisivos e caninos). Nestas áreas, a fluidez facilita a colocação precisa sem a necessidade de elevada resistência.
- Reparações de restaurações indirectas: são utilizadas para reparar coroas, pontes ou inlays/onlays de cerâmica ou metal. Devido à sua fluidez, adaptam-se facilmente às margens e superfícies das restaurações existentes, proporcionando um ajuste perfeito.
Compósitos Monocromáticos (ou Camaleónicos)
Um tipo de compósito dentário que tem vindo a ganhar popularidade nos últimos anos é o compósito monocromático ou camaleónico. Estes materiais são especiais porque conseguem adaptar-se à cor do dente do paciente, o que facilita uma integração mais natural na cavidade oral. Devido à sua capacidade de mudar de cor conforme o dente circundante, estes compósitos são ideais em situações em que a estética é muito importante, mas também quando se deseja uma restauração que precise de menos precisão na cor exacta. Estes compósitos são normalmente usados em dentes anteriores e apresentam um comportamento ótico semelhante ao do esmalte dentário. Para mais informações sobre estes materiais, convidamo-lo a ler o nosso artigo especializado sobre compósitos camaleónicos: A nova era dos compósitos dentários com adaptabilidade cromática.
Compósitos Indirectos
Os compósitos indirectos são uma categoria importante de materiais de restauração. Ao contrário dos compósitos tradicionais, que são aplicados diretamente na boca, estes são produzidos num laboratório dentário. Eles são principalmente utilizados para fazer restaurações como facetas, coroas ou inlays. Para aplicar esses materiais, é necessário fazer um molde ou impressão da cavidade dentária, onde a restauração é fabricada e depois cimentada ao dente. Embora não sejam tão frequentes como os compósitos diretos, os materiais de compósitos indirectos permitem obter restaurações que são muito estéticas e duráveis, especialmente em dentes posteriores, em que é necessária uma resistência elevada.
Qual é a composição dos compósitos dentários segundo o tamanho das suas partículas?
Os compósitos dentários modernos têm três fases principais:
- Fase Orgânica (Matriz de Resina): é a base do material, que é endurecida por luz através da fotopolimerização.
- Fase Dispersa (Enchimento): composta por partículas que são incorporadas na matriz de resina, esta fase é essencial para dar ao compósito propriedades como maior resistência à tração, dureza, resistência ao desgaste e menor retração durante a polimerização. Os enchimentos utilizados são normalmente vidros finos, quartzo ou sílica.
- Fase Interfacial: estes são os agentes que ajudam a ligar a matriz de resina ao enchimento, melhorando a adesão e a estabilidade do compósito.
Os compósitos são classificados com base nas características das partículas de enchimento, especialmente em relação ao seu tamanho:
Imagen: 1. Macroenchimento / 2. Microenchimento / 3. Híbridas / 4. Nanoenchimento / 5. Nanocluster 1µm TPP - Nanoenchimento 2 - 20 mn / 6. Partículas híbridas 1µm ТРР
- Compósitos de macroenchimento: estes compósitos contêm partículas de enchimento com mais de 10 micrómetros, o que lhes confere uma elevada resistência mecânica e durabilidade. São ideais para dentes posteriores que suportam forças mastigatórias elevadas, uma vez que são mais resistentes ao desgaste. No entanto, a sua menor translucidez e o acabamento superficial menos polido limitam a sua utilização em restaurações estéticas, especialmente em dentes anteriores. São mais adequados para cavidades grandes onde a resistência é mais importante do que a estética.
- Compósitos de microenchimento: estes compósitos contêm partículas de enchimento muito pequenas, normalmente entre 0,02 e 0,04 micrómetros.. Devido ao seu pequeno tamanho e elevada translucidez, oferecem uma excelente capacidade de polimento, o que lhes confere uma estética excecional. São ideais para restaurações anteriores, pois o seu aspeto assemelha-se muito ao esmalte dentário. No entanto, a sua resistência é limitada, pelo que não são adequados para áreas expostas a forças mastigatórias elevadas, como os dentes posteriores.
- Compósitos híbridos ou microhíbridos: os compósitos híbridos combinam partículas de diferentes tamanhos, oferecendo o melhor dos dois mundos: partículas pequenas, que facilitam o polimento, e partículas grandes, que garantem maior resistência mecânica. No entanto, uma desvantagem potencial é o desgaste desigual ao longo do tempo, pois as partículas menores se desgastam mais rapidamente, o que pode resultar numa superfície com lacunas visíveis e menos polida, afetando a estética da restauração.
- Compósitos nanohíbridos: os compósitos nanohíbridos têm-se tornado uma das opções mais populares atualmente. Eles são feitos de uma mistura de nanopartículas e partículas de tamanho convencional. Graças à presença das nanopartículas, oferecem uma excelente combinação de estética e resistência. Essas nanopartículas possibilitam um polimento mais fino e uma translucidez natural que parece mais realista. É importante considerar a percentagem de nanopartículas na formulação, porque uma percentagem baixa pode comprometer a qualidade estética do compósito.
- Nanorresinas dentárias: As nanorresinas são uma inovação recente nos compósitos dentários, concebidas para replicar a estrutura natural dos dentes, que são compostas por nanocristais de hidroxiapatite. As partículas destas resinas são dimensionadas e modeladas para permitir um desgaste homogéneo. A tecnologia utilizada no seu fabrico permite a fusão de nanopartículas com nanoclusters (agregados de partículas maiores) para melhorar a carga de enchimento. Isto aumenta as suas propriedades de resistência, mantendo excelentes caraterísticas estéticas, como a translucidez e a opalescência.
- Tons A (quentes): A1, A2, A3, A3.5, A4: são tons castanho-avermelhados, normalmente utilizados em dentes com coloração amarela ou castanha. Quanto maior o número, mais escura é a cor.
- Tons B (amarelados): B1, B2, B3, B4: são tons amarelo-avermelhados, sendo o B1 um dos tons mais claros e brilhantes do guia. São frequentemente utilizadas em dentes jovens ou em casos de branqueamento dentário.
- Tons C (acinzentados): C1, C2, C3, C4: têm uma tonalidade mais cinzenta e menos quente, pelo que são normalmente selecionados para dentes com tonalidades frias ou envelhecidas.
- Tons D (avermelhados - acinzentados): D2, D3, D4: apresentam tons avermelhados e acinzentados, ideais para dentes com uma coloração mais escura ou um aspeto maduro e natural.
- Tons de translucidez e opacidade: estes materiais também se distinguem pelo seu nível de translucidez e opacidade. Os compósitos translúcidos são ideais para áreas visíveis, como os bordos dos dentes anteriores, uma vez que permitem a passagem da luz através deles, imitando o aspeto natural do esmalte dentário. Em contraste, os compósitos opacos são utilizados para cobrir dentes com descoloração ou para restaurações em áreas onde é necessário um maior poder de cobertura, como dentes posteriores ou que tenham sofrido danos consideráveis.
- Tonalidade universal: alguns compósitos têm uma tonalidade universal, concebida para combinar com uma grande variedade de tonalidades de dentes. Estes materiais são adequados para a maioria dos pacientes, mas podem não oferecer a precisão de uma tonalidade especificamente selecionada.
Tipos de cores de compósito dentário
Os materiais de restauração estão disponíveis numa variedade de cores que são utilizadas para combinar com a cor natural dos dentes do paciente. As cores mais comuns são agrupadas de acordo com um sistema padrão, normalmente baseado no guia Vita, que classifica as cores em várias categorias. Eis os principais tipos:
Com que outros produtos são combinados os compósitos na clínica?
Na prática dentária, os compósitos dentários fazem parte de um protocolo clínico que envolve o uso de outros materiais para garantir uma ligação forte, duradoura e biocompatível ao tecido dentário. Esses materiais são combinados com outros produtos para melhorar a eficácia e a estética do tratamento. Geralmente, numa restauração direta, o processo começa com a aplicação de um acido de condicionamento que prepara a superfície do dente criando microporos que facilitam. Em seguida, aplica-se um adesivo que atua como uma ponte entre a estrutura do dente e o compósito, garantindo uma ligação segura e duradoura. Em alguns casos, como em restaurações indiretas ou na cimentação de inlays, podem ser utilizados cimentos resinosos para reforçar a ligação. Essa combinação de materiais não só melhora a estabilidade do compósito, como também influencia diretamente o resultado estético e funcional do tratamento.
Factos interessantes e contexto histórico sobre os compósitos dentários
Para finalizar esta revisão, é interessante olhar para o passado e perceber como evoluiu este material, atualmente considerado indispensável na prática clínica. A sua utilização em medicina dentária começou na década de 1960, quando os primeiros produtos eram bastante rudimentares, com limitações significativas tanto em termos de resistência como de estética. Antes do seu aparecimento, as restaurações eram maioritariamente feitas de amálgamas de prata, um material muito durável mas com claras desvantagens do ponto de vista estético.
O aparecimento das resinas compostas marcou uma verdadeira mudança de paradigma na medicina dentária restauradora, uma vez que não só permitiram preservar mais estrutura dentária, como também ofereceram resultados visualmente mais naturais. Ao longo dos anos, estes materiais foram consideravelmente melhorados em termos de composição, propriedades ópticas e comportamento mecânico. A incorporação de cargas cerâmicas, sistemas de fotopolimerização mais eficientes e adesivos melhorados permitiram uma integração ainda mais precisa com o dente natural.
Atualmente, estima-se que cerca de 70% dos tratamentos de restauração em medicina dentária utilizam este tipo de resina. A sua popularidade deve-se à sua versatilidade, à sua capacidade de se fundir com a estrutura dentária e ao seu comportamento clínico previsível. Graças aos avanços tecnológicos na sua formulação, afirmaram-se como o material de restauração padrão na medicina dentária conservadora e estética.
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E assim termina o artigo de hoje. Como sempre, estamos muito gratos por ser um leitor fiel e valorizamos o seu interesse pelos nossos conteúdos. Se quiser continuar a ler-nos, convidamo-lo a seguir-nos nas nossas redes sociais. Além disso, não hesite em contactar-nos para nos dar sugestões ou colocar questões, pois teremos sempre todo o gosto em ajudá-lo. Até à próxima!